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Morre Kurt Westergaard, autor da polêmica charge de Maomé que motivou o massacre no jornal Charlie Hebdo
Trabalho do cartunista, originalmente publicado em 2005, também gerou revolta e ataques às embaixadas da Dinamarca em vários países do mundo
2 min de leituraO cartunista dinamarquês Kurt Westergaard, cuja caricatura do profeta Maomé indignou muitos muçulmanos em todo o mundo, tendo motivado o massacre do jornal francês Charlie Hebdo em 2015, morreu aos 86 anos. Sua família disse que ele morreu dormindo após uma longa doença, informou o jornal Berlingske. Westergaard foi cartunista do jornal conservador Jyllands-Posten desde o início dos anos 1980.
Seu trabalho tornou-se notório mundialmente após sua representação polêmica do profeta Maomé em 2005. O desenho, que mostrava a figura religiosa usando uma bomba de turbante, foi um dos 12 publicados pelo jornal para fazer uma crítica à autocensura e às polêmicas envolvendo o Islã. As representações do Profeta Muhammad são amplamente consideradas um tabu pelos muçulmanos e extremamente ofensivas para alguns deles.
Em 2008, o serviço de inteligência dinamarquês anunciou a prisão de três pessoas acusadas de planejar o seu assassinato. Dois anos depois, a polícia dinamarquesa prendeu um somali de 28 anos armado com uma faca na casa de Westergaard. Mohamed Geele, 29, foi condenado por tentativa de homicídio e terrorismo e preso por nove anos em 2011. Westergaard teve que viver com um guarda-costas em endereços secretos em seus últimos anos.
As charges do jornal geraram protestos na Dinamarca, enquanto seu governo recebia reclamações de embaixadores de países muçulmanos. Em consequências, várias embaixadas dinamarquesas foram atacadas e dezenas morreram em distúrbios, que se estenderam até fevereiro de 2006.
O impacto dos desenhos foi duradouro, sendo o mais importante e trágico no massacre de 12 pessoas ataque aos escritórios do jornal francês Charlie Hebdo, que republicou os desenhos. Após a publicação das charges, Westergaard recebeu inúmeras ameaças de morte e foi alvo de tentativas de assassinato. Ele primeiro se escondeu, mas depois decidiu viver abertamente em uma casa fortemente fortificada em Aarhus, a segunda maior cidade da Dinamarca.
Apesar das chocantes consequências da publicação de seu trabalho, o artista valorizava a discussão iniciada com sua obra. "Eu faria da mesma forma (de novo) porque acho que essa crise dos cartoon, de certa forma, é um catalisador que está intensificando a adaptação do Islã", disse ele à Reuters. "Estamos discutindo as duas culturas, as duas religiões como nunca antes e isso é importante", concluiu.